sábado, abril 03, 2010

WPW

Admito, meu coração é fraco.


Disse-me o médico, todo formalizado:
“– Caso raro: ‘Síndrome da Pré-Excitação Ventricular’.
O coração bate sem ritmo, descompassado.”


E continuou...
“– Evite emoções fortes, exercício puxado,
tudo que possa acelerar seu coração.”


Sim, doutor, meu problema não é o compasso,
Nem a preocupação do desarritmar;
Quero, pois, que me digas o que faço
Se um dia, por acaso, vier a me apaixonar?

sexta-feira, fevereiro 19, 2010

Caça-palavras

O que é fato? O absurdo.
O que é feto? O fruto.
O que eu fito? O absoluto.
O que é foto? O escuro.
O que é incerto? Futuro.

O que eu afago? Teu filho.
O que eu afeto? Teu brilho.
O que eu afino? Teu urro.
O que eu afogo? O teu fogo.
O que eu afundo? O teu mundo.

O que eu acabo? Teu engano.
O que eu aceito? Teu respeito.
O que eu assino? Teu acordo.
O que eu acordo? Teu sono.
O que acumulo? Teu assunto.

E sigo "re-verbeando"...

Deus a Sós

Se eu me olhar com teus olhos, quem verei?
Mil sóis e mil faces
ou corpo que, solto no nada, finge ter luz própria?

Se eu me ouvir com teus ouvidos, que voz terei?
Recitarei, desafinado, poemas mudos,
confessarei erros futuros,
guiar-me-ei pelos sons de meus próprios medos?

O verdadeiro serei eu
ou o homem que me observa, curioso,
no espelho?

Olhos nos olhos.

[...]

Ao meu lado, Deus se pergunta quem é.
Se vê multiplicado no mesmo espelho. Se vê nascendo e morrendo abandonado nos leitos, indo e voltando ao Seu próprio Infinito, caçando a Si mesmo nos campos desertos, movido por instinto.
Vê-Se com medo do escuro, escondendo-Se sob as cobertas.
Vê-Se pisando na Lua.
Vê-Se crescendo e multiplicando-se, nascendo de quem ama, matando e morrendo por amor.
Vê-Se nas estrelas, nas Galáxias, nas moléculas pelas quais os homens se reconhecem como sendo eles próprios Deus.
E então Se vê diferente em cada coração, em cada livro, em cada oração, em cada suicídio em Seu próprio nome.
Tinha se criado assim...
Mas é Uno, é Tudo, é Nada.
Não se deixa levar pelos absurdos que fizeram a Si mesmo.
Não há contradição. Não há desespero. Não há descontrole...
NÃO HÁ.
Acende-Se então num cigarro, põe-Se sobre o disco a agulha, desliga-Se na luz, deita-Se no chão e sente-Se confortavelmente anestesiado.

sábado, maio 26, 2007

Poema descompassado (e sem futuro)



A tua mão em contramão

Encontra o rosto,

Sentindo a face que te mira

Sem senti-la;

Tua pele alva como alvo da retina,

Tua distância em nosso abraço já é rotina...

...E a carne fraca, fracassada carne,

a te esperar...

Sentado e sentindo o Sol

Sobre esta face singular

(e sem sentido).

D. Lordello

13/04/2007

Poema sem novidade

Sem mais expectativas,

Ela diz.

Sem mais sonhos, então.

Nada mais pra si,

Solidão.

Dormir agora é diferente,

Pressinto um presente, um existir

Tão somente calmo e descontente

Quanto um amanhã que outrora vi.

Sem sentido, mas com sentir.

Consenti.

Aceitamos, cabisbaixos, o agora;

Triste “agora”, cada um por si...

D. Lordello

//

Para estar em todos os amores


São tantas as rosas

Que não sei escolher

Quais da flora, maravilhosas rosas,

Gostaria de ser.

D. Lordello

02/02/2007

MINHA POESIA

Minha poesia não começa,

Não tem meio nem enredo;

Não tem mágica nem credo,

Nem tem medo.

Minha poesia nasce por si mesma,

Não tem sexo,

Não tem nexo

Nem fronteiras.

Minha poesia é vira-lata,

É vaga-lume,

É a dor impune

E o amor que mata.

Minha poesia não morre.

[...]

É um casal parado no tempo.

É o tempo que odeia os casais.

É o quarteto de versos banais

Que o poeta semeia no vento.

Minha poesia não tem dono,

Minha poesia não tem sono

Nem cansaços.

É ela quem faz a mim...

E pela estrada, minha graça,

meu fim,

Partilhamos idênticos passos.

D. Lordelo

Loucura

Antes era nada.

Hoje nada sei.

Nada sou...

Nada sai

Da minha cabeça

Nessa hora,

Ora nessa demora

Ora depressa;

De pressa

Humana/mente complexa...

Tudo palavras,

Tudo pra larvas,

Imensidão de-lírios,

Minha mente mentindo,

EU, perturbado,

Perto, calo nos pés descalços,

Calo,

E calado, eu-convexo.

Eu converso com meus fantasmas...

...até sem verso.

D. Lordello

02/02/2007

Só - Riso


Havia algo ali...

Alguma sombra de música,

Alguma alma,

Que pena...

Eu, porém, sorri...

Sorrir é comunhão,

É como um “não” no partir,

Exato e sereno;

Sorrir é veneno

Pra quem quer como o “não”, desistir.

D. Lordello

02/02/2007

É ASSIM...


A vida é cheia de escadas,

Custa subir cada uma delas.

Em cada degrau que se revela

Novas lições nos são passadas.

Uma nova manhã,

Outro amor ou a cura de um vivido,

Não nos miremos à sombra de um afã,

Pois no sonho o alcançar já está contido.

Quedas virão, sei,

Eu mesmo muitas vezes caí,

Outras tantas me levantei.

Na dor muito de bom aprendi,

O essencial é seguir sorrindo,

Cantando o viver, o amar e o porvir.

D. Lordello

13/02/2007

De que é feito o poeta

Sabes tu destas coisas?

Um querer coerente do

Brilho das maçãs,

Um sol poente, áurea

Permanente, intermináveis manhãs;

O cheiro verde das folhas,

Cabelos ao vento,

O cantar nas profundezas

Dos tormentos e saudades...

Tudo vale à poesia...

Sabes ainda?

Todas as partidas,

Todos os olhares tristes,

Todas as ansiedades e equívocos,

Todas as noites eternas, sozinho,

A cama maior,

A alma,

A insônia,

A chama,

Tudo maior,

– os erros –,

Todos os dias

sem o perfume do último abraço,

Tudo, tudo que todos negam,

Todos os anjos sem guarda,

Todos os homens sem deuses,

Todos os domingos vazios,

Tudo,

Tudo enche a alma do poeta.

E basta provar deste sentir,

– ainda que ninguém consiga domar o que

se sente –

Basta ouvir-se em gritos desesperados,

Os pássaros voando por ti,

O sol se pondo por ti,

Tudo cinza, por tua causa,

Basta que todas as coisas durmam,

Que assim, assumindo o mundo em si,

Entenderás o poeta,

Que em face de tais encantos,

Consumido por todos os sentimentos,

Grita,

Explode,

Espalha, pronto enfim, o Amor

Que dentro dele, matéria-prima,

Vindo de tudo o que sentira em rima,

O fecundara.

D. Lordello

27/11/2006

DESPERDÍCIO


Digo o oposto do que tu entendes,

Penso o que tentas esconder nas palavras,

Eu te digo.

Sim, ainda sou meio calado,

Tento gritar nos olhares,

Nos toques e telefonemas,

Déja-vu.

Das palavras de perdão

Peço mais que isso,

Não quero amor submisso,

Nem quero razão...

(desperdício).

D. Lordello

21/02/2007

Confuso “eu”,


Que quando criança só queria crescer,

Andar por aí, sem rima e sem rumo.

Hoje (ah... Saudades da infância!...),

Sou um adulto no adolescer...

E eu,

Quando ao amor divagava, sorrindo,

E ambíguo e distante, chorava,

(cego bem-te-vi)

Pois amar longínqua flor é desatino;

E desata a doer (esperado destino),

O peito marcado à sofrer que gritava:

“Tirem-me daqui!...”.

D. Lordello

07/03/2007

Cinzas


“Se você vier...

...eu te prometo o sol.”

É quarta de cinzas.

É chuva.

Silêncio.

É dormir na rede,

É frio,

Amor.

Foi-se o carnaval,

Foi-se a carne,

Não a dor.

D. Lordello

21/02/2007

Carências


Preciso de um, só um “bom dia” sorridente que você me dá, mudando a voz, pra que meu dia fique realmente bom.

Preciso mais alguns dias, meses ou anos pra te entender por inteiro.

Preciso talvez mais que isso pra me entender.

Preciso saber como falar das coisas contigo.

Preciso passar cinco dias ao teu lado

e dois pensando por que não são logo sete.

Preciso esperar outros sete dias lhe dando seu tempo de direito.

Preciso ligar três vezes antes de desistir de ligar,

e de preferência não fazer isso nenhuma vez se você estiver dormindo.

Preciso só de um gesto teu pra mudar todos os meus gestos.

Preciso de meus dois olhos fixos olhando para os teus, esperando um piscar de volta pra mim.

Preciso de mais algumas horas no dia pra corrigir erros e dormir tranqüilo.

Preciso de mais gestos de carinho sem inibição e sem culpa.

Preciso de menos inibição e culpa...

Preciso perceber teus limites e não compará-los com os meus.

Preciso de um abraço sem precisar pedi-lo.

Preciso ser mais tolerante comigo mesmo.

Às vezes, acho que preciso ser infalível contigo.

Preciso ser mais claro ao teu lado

pra tentar ser visto com mais clareza.

Preciso ouvir outra vez três palavras suas, ou duas.

Preciso um dia não ter que dizê-las pra que você as perceba.

Preciso de outros eucaliptos, outubros...

Preciso te ver com teus olhos e que você me veja com os meus.

Preciso não merecer poesias rasgadas e lágrimas tuas.

Preciso não ser jogado tantas vezes de volta ao passado e às culpas das quais ele me faz viver.

Preciso de mais lágrimas de felicidade a dois e menos lágrimas de dor sozinho.

Preciso de outros passeios pelas ruas, rindo contigo.

Definitivamente não preciso deste aperto no peito que sinto agora.

Preciso do meu tempo pra mudar algumas coisas, mas que ele não demore o suficiente pra ser tarde demais.

Preciso estudar mais vezes contigo em dias frios.

Precisamos perceber o que temos de bom e que podemos dividir um com o outro.

Precisamos necessitar cada vez menos de palavras pra nos entendermos cada vez mais.

E precisamos muito, precisamos tanto... e muito desse tanto precisamos juntos.

domingo, outubro 08, 2006

Eus

É complicado escrever sentimentos. Tanto quanto vivê-los difícil se torna... Acordo vazio, sem senso, sem rumo, mendigando um sentido por vidas afora...
Separado dois corpos, porém se mantém o nó... e quanto mais se tenta – em lados opostos – desvencilhar-se, mais apertado torna-se o laço. Não adianta esconder-se aos gritos de quem mais o conhece, de quem sabe seus gostos, gestos e vive em essência o que sentes. Alguns o chamam de âmago, outros de Santo Espírito; eu o dei meu nome...
Daniel me entende, me ri, me fere e me cura. Eu e eu mesmo. Meu remédio e meu veneno.
Nesse instante, enquanto escrevo estas linhas ele ri e sussurra: “Sou suas escolhas e renúncias, suas virtudes e vícios. Você não me escolheu, mas assim me construiu; eu não pedi esse nome e caráter, mas faço do teu corpo meu abrigo, das tuas vestes meu calor e dos teus olhos meus sonhos... Enquanto me acusas eu o amo inteiramente, e quando me amas, beijo tua face...”.
E o prendo em meus êxtases e loucuras, até não mais saber quem guia e quem segue...

terça-feira, setembro 05, 2006

Ênio Mainardi

O que costumo ouvir desatento é mais interessante que o que me dizem com atenção. Falam matemática e física, ouço matemática espírita. Não pode ser isso. Recuso. São meus ouvidos loucos, surdos. E fico com a versão dadaísta, impressionista, surrealista.O louco verbal me atrai mais do que o razoável convencional.Dessa maneira, afino minha audição para o silêncio calculado, espantado. Fico quieto, observante, atento às palavras passantes.O que ouço e me faz silencioso são as frases ditas sem palavras. Como os gatos e os cachorros, percebo freqüências mudas.Meu futuro, meu passado, ecoam fazendo tremer minha intuição apavorada, não desejada. Não quero, prefiro não saber ignorar. E então volto a sintonizar no mundo real, anormal.

domingo, agosto 27, 2006

poesia

Azul o céu,
Entre as estrelas tímidas do dia.
Tempestade se foi tarde,
E beijos não duram mais que um sonho.

Água que corre face abaixo,
A mão que acaricia o rosto triste
E brilha os olhos à luz da Lua.
Nenhuma outra a mim conduz.

Sou canto vazio de silêncio
Que pulsa o vinho na garrafa a dançar;
Sou verso livre e trajado de espinhos,
Que ao sonho e ao toque reagem ferindo
A alma a as mãos do poeta a rimar.

Nada mais me traduz.
Dicionários, bibliotecas,
Músicas...
Nada.

Estou na complexidade dos ventos,
Nos caminhos do infinito
e nas cartas de amor.

D. Lordello
06/08/06

É



É poema partido em pedaços,
É lixeira acolhendo meus versos,
Desde sempre, meus dias diversos
Fluem no tempo – suspiros escassos.

É o instinto que bate no peito,
Contra a corda, o gatilho e o desejo.
É a vida, sem causa e efeito,
Ignóbil e profunda ao que vejo.

Rente a toda abstração,
Que semeia no vento o sentido,
Sinto ser somente estação.

Claro em versos, razão,
Nos papéis um riscar contorcido
Nos espelhos poemas, canção.


D. Lordelo
17/04/06

Conselhos e Convívio

Sorri.
Mostra teus desejos,
Teus medos e receios.
Faces.
Sorri.
Quero ver tua vida,
Quero ser você
Vivendo.
Sorri,
Que é curta a vida.
Lança teu eco,
Não economiza!
Quebra paredes,
Quebra rotina,
Quebra a tristeza,
Bela menina!
Sorri.
Me ensina...

Dança.
Roda tua saia,
Roda a fogueira
Cigana mulher.
Beija-me,
Me faz derreter,
Me faz entreter
Fazendo o que quer.
Gira meu mundo,
Gira tua trança,
Gira o infinito,
Bela menina!
Dança.
Me ensina...

Vive.
Entrega-te às chuvas,
Às somas, loucuras
divide.
Vive.
Voa aos bandos,
Olha de cima,
Pousa onde queres,
Menina!
Me leva, me guia,
Que a utopia sozinha
Não presta.
Se resta um pouco de
Sonho,
Grita aos homens,
Grita aos anjos,
Grita atrevida,
Bela menina!
Vive.
Me ensina.



Daniel Lordelo
24/10/05

domingo, julho 09, 2006

Doar-se


Minha desejada realidade só vem sendo alcançada nos momentos de sono. As horas que se passam rapidamente e que infelizmente não podemos controlar, pois somos escravos dos sonhos. Quando percebemos nossas capacidades, já se passou a noite, ou até pior, toda uma vida.
Depositar nossa felicidade e o destino do nosso destino na vida de outra pessoa é aceitarmos a condição de marionetes. Por que viver em função de alguém se não conseguimos viver em função de nós mesmos? Por que tentar agradar ao mundo se ultimamente temos tido pouco tempo para cuidar do que nos é agradável? Nossa personalidade deixa de ser nossa para ser simplesmente reflexo dos desejos dos outros. E é assim que queremos levar a vida? “Enchendo de água o copo do próximo enquanto morremos de sede”?
Não se trata somente de relacionamentos homem/mulher como “Adões e Evas”. A “necessidade” se encaixa em todos os parâmetros da vida. É impossível em qualquer relacionamento sermos eternamente “doadores”. “Onde fica a minha parte, onde está o que eu mereço?”. Um Messias não vive somente da fé alheia. Um homem não vive somente de pão; mas devemos ter o mínimo de inteligência para aceitar o fato de que as palavras “querer”, “ter” e “poder” nem sempre andarão juntas. É no mínimo egoísta querer sempre. É no mínimo absurdo doar-se sempre.

Como construir novas dúvidas... Ou me matem de uma vez!

Conchas se abrem, e as manhãs já não são as mesmas. Sinto aqui dentro, que o que correspondia ao lúcido e verdadeiro já não passa de ideais falidos, como estou de mim.
Pensei que o que a maioria venerava, respeitava e entendia, serviria para minha íntima compreensão, e vi que a Lua estampada no lago não é verdadeira, e que também é falso o lago. Andar à noite pelas vielas interiores é passar por longos constrangimentos; e inevitavelmente medrosos, contemplamos com estranheza e vergonha nossa alma, nossa pobre grande alma...
Mas, o que na verdade nos anima? E de que serve todas as nossas certezas? Para construirmos os alicerces das nossas lúgubres ilusões, talvez. Ou simplesmente para termos a convicção de que o que achamos ser verdadeiro não passa da mentira mais aceitável. Por isso mudamos constantemente; por adequarmos tais verdades às nossas atuais necessidades. Por isso a alienação faz os outros tão felizes.
É uma corrida infinita, por caminhos diferentes, mas todos buscando as mesmas respostas. Todos levando às mesmas decepções. Mas, impiedosamente, sentimos uma brisa fresca e confortável, que não passa de adjetivos, e que conhecemos por vários nomes, apesar deles não dizerem absolutamente nada. Sentimos enquanto o carro corre velozmente, e pomos nossa cabeça para fora da janela. Sentimos quando olhamos para as estrelas e, felizes, admitimos nossa pequenez perante o Universo, mas que ainda assim somos um dos fios responsáveis pela construção dessa magnífica teia...
Sentimos isso quando, ao fim de toda uma vida apoiada na razão, percebemos que a razão confunde, o sentimento complica; mas, ainda assim, senti-los nos dá mais prazer...
Não se morre de “pensar”. Mas se morre de amor.
Razão não nos faz chorar música, comer poesia, ouvir os ventos. Razão veio com a “Evolução” e nos joga cada vez mais ao precipício das dúvidas. Embala-nos à cadência da frieza, do tédio e da autodestruição.
Joga-nos contra nós mesmos, contra o espelho, e nos envergonha.
Sentir é beijar-te ao espelho. De amor ou de pena.
É morrer “divino”, tornar-se eterno. Para sempre menino...

Cântico dos Anos

Cantei ontem o Amor:
Música suave, lenta
E em constante recomeço.

Outrora perdia-me em paixões
Infundadas, afogadas e jovens.
Hoje sou velho, experiente em
Perder a razão perante multidões.

Sentei ante o rio e sonhei
Que o que vivo é um sonho.
Não mais pesadelos, pois os perdi
Quando criança.

Nas brincadeiras infantis de um velho
Risonho, recordo-me aquele tempo:
Quando novo, preocupava-me em entender
Eternos mistérios.

Hoje, ainda sem respostas, apoio-me
Na certeza de que a música que ontem cantei
Leva em si a verdade dos homens.

Talvez já me foi revelada,
Mas eu, nos cegos amores,
Deixe-me perder
Pelos olhos da pessoa amada.


Daniel Lordelo
18/07/05

Amálgama

Uma parte de mim quer,
outra parte condena;
uma pede teu olhar
e chora a carência,
outra parte delira
à bruma de esperanças.

Uma parte manda, desmanda
e mente;
outra parte obedece, e chora,
e sente
que no lado escuro da Lua,
onde vaga um mistério (sem fim),
hoje dorme a outra parte das partes
de mim.

Contradizo-me,
confundo-me,
confesso...

...Pois quando vem a Dama Branca,
nasce a escuridão, e recolho-me
num canto; apenas sinto,
e escrevo,
não penso.

Não penso, pois o amor
não pensa,
e se pensasse não seria amor.
Não penso, pois quando voas
não cruzas meu caminho,
e quando procura-me,
foge a vista,
e não lê meus olhos,
não lê o que sinto.

E em mim, incerto,
o mundo é um desatino,
um labirinto,
e não carrego nada, só a cruz,
nem a sorte, pois a sorte vem aos fracos,
e sou forte,
pois amo.

Daniel Lordelo
03/05/05

O "Pois" do "Por que"

Falta-me tempo pra pensar no que fazer em todo este tempo sem fazer nada.
Só me resta novamente escrever outras linhas sem sentido...
...A caneta sobre a folha branca é como os dedos de um pianista sobre as teclas do piano: nunca ficam parados, sempre encontram um modo de satisfazer seu dono. Pena que às vezes, quando não se é um escritor, ou um grande pianista, as idéias e as notas chegam ao fim, em poucos momentos tomam vida própria - bordando os papéis e as teclas como algo tão natural, como se fosse ensaiado durante toda uma vida. Comigo pelo menos é assim; tenho pouca inspiração, e esta se esgota rapidamente.
Minhas melhores linhas surgem quando não pretendo escreve-las, quando não tenho papéis e caneta à mão ou quando tento passar o tempo lançando besteiras no papel. Depois percebo que tais besteiras se tornaram boas palavras, dignas de serem lidas ao menos uma vez, por prazer, por educação ou por pena.
As respostas, por natureza, nunca vêm facilitadas. Elas lutam contra tudo e todos para se manterem difíceis, mais misteriosas do que as próprias perguntas. E não precisam ser grandes perguntas as detentoras de grandes respostas. As mais simples são geralmente as mais difíceis de serem respondidas. Experimente um “Por que?” ao final de cada resposta e verás que em um dado momento irá deparar-se com um grande labirinto. Tudo por causa de um “Por que?”. Pois o “Por que?” , amigos, pode não parecer, mais é a maior de todas as perguntas!

Em ALGUMA hora de TODOS os dias...




Não tenho nenhuma idéia. Escrevo apenas agora por não ter outro pensamento que me guie pra fora de mim – muitas vezes é doloroso ter consciência de si mesmo –.
Desta vez não ruminarei filosofias clichês de amor, psicologia humana barata ou outras com adjetivos piores que os já citados (liberdade de expressão ou tolice, não sei ao certo, mas insisto em escrever dessas bobagens).
Nada de linguagem rebuscada. Escreverei como penso: simples e melancolicamente belo. Talvez, ou certamente, um pouco deprimido ou demasiadamente desanimado (são qualidades “siamesas”), mas quem tem olhos para ver verá algum rastro de poesia, que de poucas em poucas vezes pousa no papel, olha em meus olhos e torna a fugir, em busca de outras paisagens pra dar cor e arte, ou simplesmente em busca de descanso.
Isto poderia estar em algum diário que eu deveria escrever, mas confesso que sem a “pressão” de escrever em diários me sinto mais livre pra escrever o que sinto onde quer que esteja, principalmente quando em frente à tela do computador.
Globalização tem dessas coisas...
...
Ri meio sem graça de mim há alguns segundos... Pode ser besteira minha, mas realmente sinto que foi uma mensagem irritada dos céus pra esta pobre ovelha sedentária: o nome “VIVO” escrito numa caneta em cima da mesa...
Adjetivo ou conjugação de verbo, não importa: atravessou meu peito como uma flecha. “Será, meu Deus, que até uma caneta tem consciência do que é viver?” E eu, onde fico nessa história? Parado em frente a uma indireta direta do céu, pensando nas minhas horas ao léu, no que queria dizer à amada se a ligação não fosse tão cara, estralando os dedos dos pés com os próprios dedos dos pés e me perguntando o que é que eu estou fazendo de minha vida...
Poderia citar outras façanhas de meu signo de fogo (que fogo??), mas prefiro poupar-me de encarar a realidade mais uma vez e nada fazer.
Onde estará a poesia neste momento? Sinto falta de companhias...
Por que não consigo mandar-me dormir?...

Conclusão

É importante e necessário se pensar sobre o ser humano, tanto no sentido individual como coletivo?
É importante se pensar sobre o amor e suas conseqüências para o homem, tanto no sentido individual como coletivo?
E sobre ética na atualidade, sobre a tolerância, a amizade, as religiões e o homem, sobre o preconceito, o conhecimento, os sentimentos e as diferenças? Achas necessárias tais discussões para nosso entendimento e compreensão?
Então tu acabas de me provar que a Filosofia é e sempre será fundamental para o homem.