domingo, maio 28, 2006

Mundo animal

O peixinho no aquário,
Pequenino e solitário,
Também sonha em se matar.

O seu dono, um operário,
Sonha com seu mortuário
E ainda pensa em se casar.

O cachorro, sedentário,
Acha o dono um otário,
Quer ser cão de salafrário
Para a vida melhorar.

Palmas para o cão!
Palmas para o peixe!

Divã

Já não consigo pensar em mim,
Agora mesmo não sei quem sou;
E este que escreve o monólogo,
Descarta a filosofia
Pra querer ser psicólogo...

Ajudar a quem, meu Deus?
Em estudo de loucura
(de amor ou de nascença)
Jamais encontra a cura
Pois que sofre da doença.

Quem no mundo é são?
No mundo mundo todo mundo é...
...ninguém é plural.

Poesia

Parar por um momento
E viver eternos tempos
No fazer da poesia.

A folha a beijar o vento

E a pipa que descansa
Lá nos fios de energia.

D. Lordello
28/06/06

domingo, maio 07, 2006

É

É poema partido em pedaços,
É lixeira acolhendo meus versos,
Desde sempre, meus dias diversos
Fluem no tempo – suspiros escassos.

É o instinto que bate no peito,
Contra a corda, o gatilho e o desejo.
É a vida, sem causa e efeito,
Ignóbil e profunda ao que vejo.

Rente a toda abstração,
Que semeia no vento o sentido,
Sinto ser somente estação.

Claro em versos, razão,
Nos papéis um riscar contorcido
Nos espelhos poemas, canção.



D. Lordelo
17/04/06

17/04/06




Do silêncio a morte fez-se leito,
Subo aos horizontes e me perco;
Sem mais beber de doces fontes
Vaga em devaneios o meu peito.

Do significar de minhas angústias
Ao limiar de tristes esperanças;
Cego à melodia das crianças
Ou na noite escura a dardejar;
Servo das sereias ao cantar
Eternas pelo mar sua formosura.

Senhor, se à teu filho amas,
Parte já ao fim, esquece o meio,
Dá-me de uma vez a tua promessa
Do eterno descansar ao qual anseio.