domingo, dezembro 11, 2005

Sem título...

Vivo atropelando o tempo.
Nunca morre, mas invento
O que decorre de meu doido
Pensamento.

Trago forma à loucura.
Trago cura à demora.
Trago um fumo fedorento
Pra passar mais lenta a hora.

Prendo as rimas,
Solto os bichos,
Cato os lixos de amanhã.

Se me entrego,
Vou pro inferno.
Deliciar castigo eterno
Ao comer desta maçã.

Velhos Temas... Novas Plavras

...Impaciente/mente perco meu tempo analisando assuntos que não me diz respeito: política, religião, sociedade, valores humanos... São os grandes erros da humanidade, e se tinha algum objetivo a meu interesse, perdeu-se pelo passado; e eu, no meu magnífico pessimismo, sei que nunca retornarão, ou que jamais tornar-se-ão indispensáveis aos seres “pensantes”.
Cabem aos seus gerenciadores, criadores e seguidores perceberem o câncer gerado na sociedade a partir de quando gerou-se o deturpado conceito de democracia, de lucro, justiça e lei, livre-arbítrio, amizade e comunhão, entre tantas outras quimeras atuais...
Religião e sexo hoje se misturam, e seus estilhaços apontam o caminho em que se segue nossa tão evoluída e, paradoxalmente, frágil sociedade. Deus tornou-se um velho incapaz de exercer justiça perante as tiranias, controle sobre os homens, deixando tal ofício somente ao tão solitário ser, criado da lama, da costela, da loucura.
Não pretendo ser o tal “Profeta do Apocalipse”. Seria somente mais um, perante os muitos que constroem a cada dia, sob a ética dilacerada pela eternidade, um pouco do que se é o inferno, um desejo, edificado sobre minas, que respondem aos mais “sublimes” apelos da mente, do lucro, mais valioso que a própria vida, esta colméia de dores, drogas e gritos desesperados por socorro.
...
- Acorda, Pai!!
- O que você quer, meu pequeno insuportável?
- Meus irmãos Pai, estão lhe chamando...
- Não vê que ainda estou descansando? Eu lhes dei casa e comida, o que vocês querem de mim?
- Saber o que o Senhor entende por amor...
-!...
A partir daquele dia, nunca mais ouviu-se notícias de Deus.

Daniel Lordelo
14/07/05

Algo, logo...


Jogaram-me bruscamente à
Vida;
Pré-concebida vida de/mente.
Queimaram-se em novas
Feridas;
As dores vi/vidas anteriormente.

Amores e outros fathos
Nocivos,
Derramam-me no copo vazio.
Sou líquido, lama, lamento
– no chão que me atiram, enfrento –
Os cacos que o peito feriu.

Bebo do cálice;
Calo-me.
Desce ao âmago:
Amo-te.

Cresce isolado meu sonho.

Tu que em tamanho não mostras
O quanto de ti me abocanha;
Boca pequena, cigana
Dissimuladamente me engana
Em frente às verdades já postas.

Mas só, me encontro perdido.
(perdido me vejo mais só)
Travando em minha garganta este laço,
Confirmo que o amor é nocivo.
E deste veneno sou vício;
Disso,
Escravo me faço.

Nesta amálgama absurda
De horas e horas perdidas,
Tento fazer poesia.

Juntar os pedaços,
Perder-me em teus braços
Para enfim encontrar alegria.


Daniel Lordelo
10/10/05

sábado, dezembro 10, 2005

Flor de Mel

Diga querida, que me ama,
E me deixa responder-te.
Alimenta de vez esta chama,
Que no leito é bem mais que um flerte.

Em tua íris eu sei que me chamas,
E vou indo encontrar-me em deleite.
Toca os lábios nos meus, Flor de Mel,
E forja em teus olhos o mais belo enfeite.

No partir destas tardes eternas
Que o compêndio das dores abriga,
Passo só contemplando a esperança
De te ter como mais que uma amiga.

Fazer-te outros versos sinceros,
Canções pra exaltar teu valor.
Buscar compreender em essência
O sublime e imutável amor.






INDECISÕES...

É estranho... Ela me deixa, dizendo que me ama, liga matando a saudade, abraça-me escondendo as lágrimas, me olha declarando-se amada e beija entregando-me a alma. Entre a “sensatez” e a “essência” escolhe as duas, pede pra eu vê-la e foge ao próprio peito, olha no espelho e chama meu nome, não quer que eu sofra e sofre por mim.
Após vários “eu te amo” desliga o telefone, sem me deixar responder. Queria viver cada minuto e hoje antecipa a despedida, mas me chama de amigo como nas cantigas.
Quantas personalidades têm a pessoa que amo?
Nem eu, que à vida toda fui escravo das dúvidas, desconheço o que quero. Sei de minhas duas certezas: a da morte e a do amor. Não fujo a nenhuma delas... Mas querida, me diga o que queres, decida-se, para eu saber se daqui pra frente lutarei por algo ou alguém.

Sobre o tédio e a rotina...


Penso que o tédio é a arma da alma contra o tempo mais lento de um dia... É dele, do tédio, que retiramos sob pressão a vontade de mostrarmo-nos útil à nossa moral debilitada pelos acontecimentos rotineiros.
Se as manhãs perderam o ar de início, passando à mera condição de “estraga prazeres” – quando se acorda – é um sinal de que as coisas não vão indo bem. Se depois de um pouco de tempo você faz de tudo pra se lembrar de algum sonho que lhe desse uma expressão dessemelhante à convencional é porque sua necessidade de fuga já deu sinal de vida. VIDA, já viu palavra mais subjetiva? Mais traiçoeira e inconstante? Mais rotineira e tediosa? Tá, tem seu lado bom também: a vida nos dá a liberdade de reclamar.
Cadê os descendentes da Era Hippie? Pra onde foi a necessidade de “voar” para além do horizonte, de caminhar descalço pela estrada da vida, de conversar com os espelhos e as plantas? Pra onde foi a essência dos homens e sua reação a esse resto de sentido que é o despertar a cada manhã?
Acho que eu já me questionei sobre a frase: “Trabalhar pra viver e viver pra trabalhar.” Fiquei desesperado ao olhar em volta e vê-la resumida nos olhos de cada estudante e outros adestrados que vendem o suor por tão pouco. Suor este, ‘bem mais belo que o sangue amargo’ que trai os sonhos ao pulsar, teimoso, nas artérias.
O jeito mesmo é venerar a inconsciência, pois como disse Pessoa, “A inconsciência é o fundamento da VIDA. O coração, se pudesse pensar, pararia.”

SAÚDE!

Mil vidas e o mundo giram.
Geram – me – jaram em mim.
Risos e pus emergiram
Feridas furadas no rim.

Que pulse na veia estiletes,
Que sangre na pele hematoma
Que rasgue as artérias sintoma,
E balas perfurem coletes.

Verso decomposto em verme,
Onde cinzas renascem desagrados,
Do hospedeiro das veias, coagulado,
Tinge de rubro a epiderme.

E pulsa...
E pulsa...
E pus...
E nada mais.





domingo, dezembro 04, 2005

Sobre a bebida e o episódio...


Como se resume o desassossego? Talvez eu seja cego, ou talvez nego a impossibilidade de abster-se do medo. Talvez tudo seja Quimera, talvez seja a realidade sem tempero, mas que nas poesias e músicas adquirem um pouco de alma.
O que resta do resto é mundo. Do desespero profundo, calma; tranqüilidade pelo estado terminal da vida, e de parte de meus sonhos – onde, ao invés de mar de rosas, só sinto espinhos. Eles me massageiam, são verdes sem esperança, é cálice de sangue coagulado e refletem o “prazer” da abstinência. Não, não uso drogas; já basta o Oxigênio. O prazer ao qual me refiro é de entreter-se com a (im)possibilidade de ter encontrado andando por aí o seu reflexo de espelho, a sua artéria. Mentira. Bastam uns copos de vinho para que a VERDADE perca a VERGONHA, e seja como deveria ser para aqueles que fogem da própria essência: nua e crua.
É assim que acontece, e apesar de ser algo levemente esperado, não anula a probabilidade de ser decepcionante. Foi um teatro. Foi drama e comédia romântica ao estilo suicida.
Vocês provavelmente não entenderão o que escrevi neste último parágrafo. Pouco me importa. Só tenham cuidado com as arianas...
Qual o prazer almejado quando se gola um copo de vinho? E nos sucessivos outros copos? O que eles escondem? Talvez a futilidade com máscara de coragem, que põe à tona todos os absurdos possíveis do inconsciente humano. Ou talvez libertem de vez a total falta de amor próprio dos que se embebedam intencionalmente, dos carentes de amor e atenção, que por não conhecerem as leis da vida usam dos extremos pra se mostrarem existentes neste mundo que pouco lhes dá atenção... Talvez busquem na “fantasia” o amor que o pai não deu, e que continuará fantasiado até o momento em que chega o fim o efeito da droga: ressaca.
A embriaguez não é poesia, desculpa nem solução. É a necessidade de estar tonto e assumir a incapacidade de seguir adiante, de vomitar e pôr pra fora toda a inutilidade contida no ser, de tirar a beleza da autenticidade e da verdadeira face do homem. Vocês me entendem?
Entendendo ou não, quando sentir que se está perdendo o controle do absurdo, parem de beber...