sábado, dezembro 10, 2005

Sobre o tédio e a rotina...


Penso que o tédio é a arma da alma contra o tempo mais lento de um dia... É dele, do tédio, que retiramos sob pressão a vontade de mostrarmo-nos útil à nossa moral debilitada pelos acontecimentos rotineiros.
Se as manhãs perderam o ar de início, passando à mera condição de “estraga prazeres” – quando se acorda – é um sinal de que as coisas não vão indo bem. Se depois de um pouco de tempo você faz de tudo pra se lembrar de algum sonho que lhe desse uma expressão dessemelhante à convencional é porque sua necessidade de fuga já deu sinal de vida. VIDA, já viu palavra mais subjetiva? Mais traiçoeira e inconstante? Mais rotineira e tediosa? Tá, tem seu lado bom também: a vida nos dá a liberdade de reclamar.
Cadê os descendentes da Era Hippie? Pra onde foi a necessidade de “voar” para além do horizonte, de caminhar descalço pela estrada da vida, de conversar com os espelhos e as plantas? Pra onde foi a essência dos homens e sua reação a esse resto de sentido que é o despertar a cada manhã?
Acho que eu já me questionei sobre a frase: “Trabalhar pra viver e viver pra trabalhar.” Fiquei desesperado ao olhar em volta e vê-la resumida nos olhos de cada estudante e outros adestrados que vendem o suor por tão pouco. Suor este, ‘bem mais belo que o sangue amargo’ que trai os sonhos ao pulsar, teimoso, nas artérias.
O jeito mesmo é venerar a inconsciência, pois como disse Pessoa, “A inconsciência é o fundamento da VIDA. O coração, se pudesse pensar, pararia.”