terça-feira, novembro 15, 2005

Óbito Casual

Morri hoje?
Padeci por um sentimento há tempos escondido, e de que tanto necessito pra viver? Qual será ele, que causou meu lento entorpecimento, de alucinações escarradas por um conjunto de sonhos e loucuras?
Como será agora, livre das amarras imperfeitas da vida? Como trilharei e semearei minhas dúvidas luciferianas? Será que os absurdos, agora lúcidas verdades, cuidarão de me lançar à danação?
Eu, que tanto lutei por eles!
Ah, como é boa a indigência! Estar enxuto das lamas políticas e fisiológicas! Agora deus, dono de todo meu infortúnio, livre para xingar a quem odeio, pra cuspir no prato de quem tanto passa fome, e que pouco luta pelo pão.
Agora tenho um refúgio, e dele serei Rei! Tenho mil virgens loucas, e outras mil insaciáveis! Tenho a razão, e esta enfim traz-me alegria, e vontade de viver...
Não uso mais relógios, e o tempo é companheiro; não fumo mais cigarros e nem bebo – a embriaguez é viva, é eterna e saborosa. É morta, e é brincadeira; e o destino? Ah, destino! Perdeu-se o valor!! O futuro agora é ridículo, é passado; são pobres anos mortais dos escravos de fórmulas e doenças, dos que passam toda uma vida para perceber que no fundo o viver não deve ser visto como causa, e sim como conseqüência! “A existência não merece nossa saudade, pois é passageira. Saudemos a morte, esta sim, infinita!”
E se não quiseres partir, que leves nas mãos a bandeira anárquica, e ria dos padrões, dos modelos e dos homens. Ria, pois o riso nos faz ver que a vida é tão banal que não podemos vivê-la como uma tragédia.