domingo, julho 09, 2006

Doar-se


Minha desejada realidade só vem sendo alcançada nos momentos de sono. As horas que se passam rapidamente e que infelizmente não podemos controlar, pois somos escravos dos sonhos. Quando percebemos nossas capacidades, já se passou a noite, ou até pior, toda uma vida.
Depositar nossa felicidade e o destino do nosso destino na vida de outra pessoa é aceitarmos a condição de marionetes. Por que viver em função de alguém se não conseguimos viver em função de nós mesmos? Por que tentar agradar ao mundo se ultimamente temos tido pouco tempo para cuidar do que nos é agradável? Nossa personalidade deixa de ser nossa para ser simplesmente reflexo dos desejos dos outros. E é assim que queremos levar a vida? “Enchendo de água o copo do próximo enquanto morremos de sede”?
Não se trata somente de relacionamentos homem/mulher como “Adões e Evas”. A “necessidade” se encaixa em todos os parâmetros da vida. É impossível em qualquer relacionamento sermos eternamente “doadores”. “Onde fica a minha parte, onde está o que eu mereço?”. Um Messias não vive somente da fé alheia. Um homem não vive somente de pão; mas devemos ter o mínimo de inteligência para aceitar o fato de que as palavras “querer”, “ter” e “poder” nem sempre andarão juntas. É no mínimo egoísta querer sempre. É no mínimo absurdo doar-se sempre.

Como construir novas dúvidas... Ou me matem de uma vez!

Conchas se abrem, e as manhãs já não são as mesmas. Sinto aqui dentro, que o que correspondia ao lúcido e verdadeiro já não passa de ideais falidos, como estou de mim.
Pensei que o que a maioria venerava, respeitava e entendia, serviria para minha íntima compreensão, e vi que a Lua estampada no lago não é verdadeira, e que também é falso o lago. Andar à noite pelas vielas interiores é passar por longos constrangimentos; e inevitavelmente medrosos, contemplamos com estranheza e vergonha nossa alma, nossa pobre grande alma...
Mas, o que na verdade nos anima? E de que serve todas as nossas certezas? Para construirmos os alicerces das nossas lúgubres ilusões, talvez. Ou simplesmente para termos a convicção de que o que achamos ser verdadeiro não passa da mentira mais aceitável. Por isso mudamos constantemente; por adequarmos tais verdades às nossas atuais necessidades. Por isso a alienação faz os outros tão felizes.
É uma corrida infinita, por caminhos diferentes, mas todos buscando as mesmas respostas. Todos levando às mesmas decepções. Mas, impiedosamente, sentimos uma brisa fresca e confortável, que não passa de adjetivos, e que conhecemos por vários nomes, apesar deles não dizerem absolutamente nada. Sentimos enquanto o carro corre velozmente, e pomos nossa cabeça para fora da janela. Sentimos quando olhamos para as estrelas e, felizes, admitimos nossa pequenez perante o Universo, mas que ainda assim somos um dos fios responsáveis pela construção dessa magnífica teia...
Sentimos isso quando, ao fim de toda uma vida apoiada na razão, percebemos que a razão confunde, o sentimento complica; mas, ainda assim, senti-los nos dá mais prazer...
Não se morre de “pensar”. Mas se morre de amor.
Razão não nos faz chorar música, comer poesia, ouvir os ventos. Razão veio com a “Evolução” e nos joga cada vez mais ao precipício das dúvidas. Embala-nos à cadência da frieza, do tédio e da autodestruição.
Joga-nos contra nós mesmos, contra o espelho, e nos envergonha.
Sentir é beijar-te ao espelho. De amor ou de pena.
É morrer “divino”, tornar-se eterno. Para sempre menino...

Cântico dos Anos

Cantei ontem o Amor:
Música suave, lenta
E em constante recomeço.

Outrora perdia-me em paixões
Infundadas, afogadas e jovens.
Hoje sou velho, experiente em
Perder a razão perante multidões.

Sentei ante o rio e sonhei
Que o que vivo é um sonho.
Não mais pesadelos, pois os perdi
Quando criança.

Nas brincadeiras infantis de um velho
Risonho, recordo-me aquele tempo:
Quando novo, preocupava-me em entender
Eternos mistérios.

Hoje, ainda sem respostas, apoio-me
Na certeza de que a música que ontem cantei
Leva em si a verdade dos homens.

Talvez já me foi revelada,
Mas eu, nos cegos amores,
Deixe-me perder
Pelos olhos da pessoa amada.


Daniel Lordelo
18/07/05

Amálgama

Uma parte de mim quer,
outra parte condena;
uma pede teu olhar
e chora a carência,
outra parte delira
à bruma de esperanças.

Uma parte manda, desmanda
e mente;
outra parte obedece, e chora,
e sente
que no lado escuro da Lua,
onde vaga um mistério (sem fim),
hoje dorme a outra parte das partes
de mim.

Contradizo-me,
confundo-me,
confesso...

...Pois quando vem a Dama Branca,
nasce a escuridão, e recolho-me
num canto; apenas sinto,
e escrevo,
não penso.

Não penso, pois o amor
não pensa,
e se pensasse não seria amor.
Não penso, pois quando voas
não cruzas meu caminho,
e quando procura-me,
foge a vista,
e não lê meus olhos,
não lê o que sinto.

E em mim, incerto,
o mundo é um desatino,
um labirinto,
e não carrego nada, só a cruz,
nem a sorte, pois a sorte vem aos fracos,
e sou forte,
pois amo.

Daniel Lordelo
03/05/05

O "Pois" do "Por que"

Falta-me tempo pra pensar no que fazer em todo este tempo sem fazer nada.
Só me resta novamente escrever outras linhas sem sentido...
...A caneta sobre a folha branca é como os dedos de um pianista sobre as teclas do piano: nunca ficam parados, sempre encontram um modo de satisfazer seu dono. Pena que às vezes, quando não se é um escritor, ou um grande pianista, as idéias e as notas chegam ao fim, em poucos momentos tomam vida própria - bordando os papéis e as teclas como algo tão natural, como se fosse ensaiado durante toda uma vida. Comigo pelo menos é assim; tenho pouca inspiração, e esta se esgota rapidamente.
Minhas melhores linhas surgem quando não pretendo escreve-las, quando não tenho papéis e caneta à mão ou quando tento passar o tempo lançando besteiras no papel. Depois percebo que tais besteiras se tornaram boas palavras, dignas de serem lidas ao menos uma vez, por prazer, por educação ou por pena.
As respostas, por natureza, nunca vêm facilitadas. Elas lutam contra tudo e todos para se manterem difíceis, mais misteriosas do que as próprias perguntas. E não precisam ser grandes perguntas as detentoras de grandes respostas. As mais simples são geralmente as mais difíceis de serem respondidas. Experimente um “Por que?” ao final de cada resposta e verás que em um dado momento irá deparar-se com um grande labirinto. Tudo por causa de um “Por que?”. Pois o “Por que?” , amigos, pode não parecer, mais é a maior de todas as perguntas!

Em ALGUMA hora de TODOS os dias...




Não tenho nenhuma idéia. Escrevo apenas agora por não ter outro pensamento que me guie pra fora de mim – muitas vezes é doloroso ter consciência de si mesmo –.
Desta vez não ruminarei filosofias clichês de amor, psicologia humana barata ou outras com adjetivos piores que os já citados (liberdade de expressão ou tolice, não sei ao certo, mas insisto em escrever dessas bobagens).
Nada de linguagem rebuscada. Escreverei como penso: simples e melancolicamente belo. Talvez, ou certamente, um pouco deprimido ou demasiadamente desanimado (são qualidades “siamesas”), mas quem tem olhos para ver verá algum rastro de poesia, que de poucas em poucas vezes pousa no papel, olha em meus olhos e torna a fugir, em busca de outras paisagens pra dar cor e arte, ou simplesmente em busca de descanso.
Isto poderia estar em algum diário que eu deveria escrever, mas confesso que sem a “pressão” de escrever em diários me sinto mais livre pra escrever o que sinto onde quer que esteja, principalmente quando em frente à tela do computador.
Globalização tem dessas coisas...
...
Ri meio sem graça de mim há alguns segundos... Pode ser besteira minha, mas realmente sinto que foi uma mensagem irritada dos céus pra esta pobre ovelha sedentária: o nome “VIVO” escrito numa caneta em cima da mesa...
Adjetivo ou conjugação de verbo, não importa: atravessou meu peito como uma flecha. “Será, meu Deus, que até uma caneta tem consciência do que é viver?” E eu, onde fico nessa história? Parado em frente a uma indireta direta do céu, pensando nas minhas horas ao léu, no que queria dizer à amada se a ligação não fosse tão cara, estralando os dedos dos pés com os próprios dedos dos pés e me perguntando o que é que eu estou fazendo de minha vida...
Poderia citar outras façanhas de meu signo de fogo (que fogo??), mas prefiro poupar-me de encarar a realidade mais uma vez e nada fazer.
Onde estará a poesia neste momento? Sinto falta de companhias...
Por que não consigo mandar-me dormir?...

Conclusão

É importante e necessário se pensar sobre o ser humano, tanto no sentido individual como coletivo?
É importante se pensar sobre o amor e suas conseqüências para o homem, tanto no sentido individual como coletivo?
E sobre ética na atualidade, sobre a tolerância, a amizade, as religiões e o homem, sobre o preconceito, o conhecimento, os sentimentos e as diferenças? Achas necessárias tais discussões para nosso entendimento e compreensão?
Então tu acabas de me provar que a Filosofia é e sempre será fundamental para o homem.

sábado, julho 01, 2006

A lição do céu

Para conhecer o infinito basta olhar para o céu.
As nuvens passam, encobrem o sol e chovem, mas o azul escondido volta e se eterniza.
As estrelas enfeitam, morrem e deixam seu brilho, mas a noite continua estrelada.
A lua inspira, míngua e some, mas sua luz volta e ilumina.

O melhor é seguir às plumas, que abraçam o vento e flutuam no infinito.

A Insônia, a Rotina e o Descanso

Será que o amor
Venceria as sete horas que nos separam?
Será que o sono
Vem às sete horas desta noite?

Teu nome grita e não consigo dormir...

Será que a loucura
E os riscos valeriam à pena?
Ou será que a pena como cura resolverá esta crise?

Amanhece o dia...

Choro seco e...
Seco.
Séculos são os minutos em que demoro te lembrando.

Teu nome grita e não consigo dormir...

Passam nuvens vermelhas de chuva
e a Lua é muda.
Muda, a Lua,
Apago a luz:
Mente e peito se conflitam, se misturam...

Há coisas na vida que não mudam...

Amanhece o dia...

Olho o mundo de cima,
Chego à beira da vida,
Vejo os carros que passam,
As pessoas andando...

Passo por todos os andares.

Fecho os olhos
E durmo.




A Mulher

O mistério da mulher está em cada afirmação ou abstinência, na malícia das plausíveis revelações, no suborno das silenciosas palavras.

Henriqueta Lisboa