sexta-feira, fevereiro 19, 2010

Caça-palavras

O que é fato? O absurdo.
O que é feto? O fruto.
O que eu fito? O absoluto.
O que é foto? O escuro.
O que é incerto? Futuro.

O que eu afago? Teu filho.
O que eu afeto? Teu brilho.
O que eu afino? Teu urro.
O que eu afogo? O teu fogo.
O que eu afundo? O teu mundo.

O que eu acabo? Teu engano.
O que eu aceito? Teu respeito.
O que eu assino? Teu acordo.
O que eu acordo? Teu sono.
O que acumulo? Teu assunto.

E sigo "re-verbeando"...

Deus a Sós

Se eu me olhar com teus olhos, quem verei?
Mil sóis e mil faces
ou corpo que, solto no nada, finge ter luz própria?

Se eu me ouvir com teus ouvidos, que voz terei?
Recitarei, desafinado, poemas mudos,
confessarei erros futuros,
guiar-me-ei pelos sons de meus próprios medos?

O verdadeiro serei eu
ou o homem que me observa, curioso,
no espelho?

Olhos nos olhos.

[...]

Ao meu lado, Deus se pergunta quem é.
Se vê multiplicado no mesmo espelho. Se vê nascendo e morrendo abandonado nos leitos, indo e voltando ao Seu próprio Infinito, caçando a Si mesmo nos campos desertos, movido por instinto.
Vê-Se com medo do escuro, escondendo-Se sob as cobertas.
Vê-Se pisando na Lua.
Vê-Se crescendo e multiplicando-se, nascendo de quem ama, matando e morrendo por amor.
Vê-Se nas estrelas, nas Galáxias, nas moléculas pelas quais os homens se reconhecem como sendo eles próprios Deus.
E então Se vê diferente em cada coração, em cada livro, em cada oração, em cada suicídio em Seu próprio nome.
Tinha se criado assim...
Mas é Uno, é Tudo, é Nada.
Não se deixa levar pelos absurdos que fizeram a Si mesmo.
Não há contradição. Não há desespero. Não há descontrole...
NÃO HÁ.
Acende-Se então num cigarro, põe-Se sobre o disco a agulha, desliga-Se na luz, deita-Se no chão e sente-Se confortavelmente anestesiado.