sábado, janeiro 21, 2006

Lembrar. Perder.


Deleito-me em tua face
relembrando os bons momentos:
de vagar no infinito, simples / mente
ao amar.

Sinto;
Depressivamente o tempo se vai;
quando escorre entre os dedos
a vida destinada à ti;
talvez sem mais esperanças,
revivendo nas lembranças
dos teus olhos que perdi.

As mãos que calavam meus medos
num divino acalanto,
hoje enxugam as lágrimas
despejadas pelo canto,
desta surda melodia
orquestrada em desalento;
desta curta travessia
entre o amor e o sofrimento.


09/02/2005

Outra

Se fosses luz serias a mais bela
De quantas há no mundo – a luz do dia!
- Bendito seja o teu sorriso
Que desata a inspiração
Da minha fantasia!

Se fosses flor seria o perfume
Concentrado e divino que perturba
O sentir de quem nasce para amar!
- se desejo teu corpo é porque tenho dentro de mim
A sede e a vibração de te beijar!

Se fosses água – música da terra,
Serias água pura e sempre calma.
Mas de tudo que possas ser na vida,
Só quero, meu amor, que sejas alma!

Antonio Botto

??

‘Continuar’ ou ‘desistir’?
Ultimamente essas duas palavras têm me dado tanto medo!

O rio, os pássaros e os 'problemas'...

Recosto-me às janelas e observo pássaros seguindo a mesma rota nos céus. Carregam em si o instinto de viver segundo sua espécie, ou talvez segundos sem esse instinto.
Sentem a corrente de ar e deixam-se levar, aprisionados por ela, sempre segura, guiando-os ao mesmo destino.
Destino-me a pensar se devo seguir à margem de escolhas, ou melhor, se me deixo tragar pelo rio, boiando mais a cada batida do peito, vivendo sem esforços, à mercê das correntes, das curvas e cascatas, até me desaguar...
...
Como seria o encontro com o mar? A morte do rio em mim. Como deixar de esquecer-se, ou deixar de desejar o esquecimento se me convida o rio? Como eu, ser incerto de tudo, beberei destas águas sem querer banhar-me nelas?
...
Entender que sua personalidade lhe faz único, ou pior se nos ilude a essa capacidade – pois sempre pertenceremos a alguma classe de homens e/ou outros animais – nos faz desejar nosso “caminho único”, mas pode ser só mais um sonho; voltamos às classes. Na verdade de nada me importa as classes; talvez nos ajudem a aceitar nossa condição e seguir ao menos um caminho...
Mas entender que nossa personalidade é turva, enigmática e obscura a ela própria nos leva à que condição? Às quais desejos?
Não; não tenho coragem pra isso...
...
Só quero a sorte de um amor tranqüilo...

domingo, janeiro 08, 2006

Eu Vim

Não nasci no começo desse século.
Eu nasci no plano do eterno.
Eu nasci de mil vidas superpostas.
Nasci de mil ternuras desdobradas.
Eu vim para conhecer o mal e o bem.
E para separar o mal e o bem.
Eu vim para amar e ser desamado.
Eu vim para ignorar os grandes e consolidar os pequenos.
Eu não vim construir a minha riqueza.
Não vim construir a minha própria riqueza.
Mas não vim para destruir a riqueza dos outros.
Eu vim para reprimir o choro formidável.
Esse choro formidável que as gerações anteriores me transmitiram.
Eu vim para experimentar a dúvida e a contradição.E aprendi que é preciso idolatrar a dúvida.
Murilo Mendes

O Amor X O Alô

Estou confuso, estou sem rumo, não estou.
Definitivamente conviver comigo tem sido a pior experiência depois que ela foi embora. Calar ao telefone e ouvir sua voz por uns segundos banha-me num misto de acalanto e desespero, e ponho-me a falar para preencher o vazio. Odeio telefone, odeio qualquer tipo de contato que prive olhares e toques, que impeça de sentir a fala e o perfume, que nos limite somente ao diálogo e nada mais. Qualquer sentimento que venha a surgir enquanto se fala ao telefone é o bastante para angustiar-nos. Mesmo as brigas tornam-se mais confusas, mais sem sentido quando vividas a quilômetros de distância.
Palavras são só palavras quando ditas somente aos ouvidos. Prazer real é deixar que toquem nossa pele, que beijem nossa boca quando ditas com amor, com um olhar e um sorriso que nos confirmem a certeza do êxtase de quando se ama. Palavra viva, que nos acorda e nos alimenta e que sozinhas carecem de algo mais. Melhor é quando não são ditas, mas percebidas ao calor de um toque, no universo de um beijo. Assim deve ser o Nirvana, quando o silêncio não mais é ausência de som, mas sim o leito de dois amantes.
Por isso muitos amam a subjetividade do amor. Por ele carecer de real sentido, torna-nos possível vivê-lo num sorriso, numa música ou até melhor, no mais completo silêncio.
O Amor só ganha sentido quando deixa de ser substantivo para tornar-se verbo.

Sonhos, dores e declarAÇÕES de amor



Vontade de dormir agora e só acordar dia 19, de enfim viver o sonho de uma vida e que mesmo irreal possa mostrar-me um fio de possível futuro. A mesma vontade de perder-me em devaneios e entorpecimentos, de até lá esquecer minha história e o nome dela; para que assim eu me esqueça de mim, para que eu viva a alma do mundo e o lado bom do amor.
Um leve suspiro faz respirar seu perfume, cerro os olhos e mesmo assim a vejo, sinto como se parte de meus medos ganhassem forma e me desse um prazer indescritível. Sinto o paradoxo de sentimentos que desabrocham sem cerimônias, e pareço-me despreparado para tanto vazio, mas que toma espaço de um mundo em minh’alma.
Tolice é pensar que estou incompleto. Não vim ao mundo faltando um pouco de alma, faltando um grama de sonho. Não, vivo buscando mestres, buscando outras mãos que me acompanhem neste bosque, que me ajudem a remar por estes rios e me levem mais longe do que iria sozinho. O caminho tona-se mais fácil ao lado de quem se ama, por isso preciso dela, uma foto sequer tenho. Tenho porém o gosto de seu beijo e o perfume de sua pele. Tenho o que mais tarde virá a ser flor, o que é mulher e foi anjo, o que para mim tornou-se sonho, mel.
Compartilho da alma dos homens, por isso bebo de suas fraquezas. Talvez sejam elas que nos façam ter sede, fome e saudade; sejam elas nossa verdadeira escola, e por elas pequenos homens se tornaram deuses, imortais na alma da existência. Quase me sacio de viver meus erros, quase os aceito e idolatro-os como parte de minha essência. Na verdade é isso que realmente são.
Mas não me julgo por perder-me no amor. É o mais real dos labirintos e o mais traiçoeiro. Desistir de cruzá-lo? E por que viver, senão para chegar ao outro lado?
Cada qual escolhe seu caminho. O meu é pensar nela e ver em sua boca o mapa que conduz à eternidade, sentir na natureza e em suas vozes o canto de seu nome, e em meus braços o porto do seu corpo.

Riscos, risos e rosas



Teu rosto,
Cabelo,
Tocar teus lábios nos meus,
Medos...

Por não saber do que o amor
É capaz.
Por perder-me em desejos,
Tocar tua mão e sentir o calor.

“Sentir” é o melhor sentimento.

Teu cheiro doce,
Minha boca seca,
Paladar.
Teus olhos cerrados,
Meu peito aberto...
...ao “amar”.

Lábios e labirintos;
Provar teus instintos,
Riscos, risos, rosas.
Tudo é diferente.

Novamente tua imagem
Volta.
Miragem. Mente.

Sinto saudades.
Esqueço do tempo.
Penso ao vento calado das tardes.

Entrego-me à tua rede.
Teu barco me guia.
Juntar os pedaços,
Perder-me em teus braços
Para enfim encontrar alegria.

Se penso, sou medo.
Ao teu lado: menino.
Invejo, desejo,
Tua boca e teu beijo
E criar, junto a ti,
Todo o nosso destino.