domingo, janeiro 08, 2006

O Amor X O Alô

Estou confuso, estou sem rumo, não estou.
Definitivamente conviver comigo tem sido a pior experiência depois que ela foi embora. Calar ao telefone e ouvir sua voz por uns segundos banha-me num misto de acalanto e desespero, e ponho-me a falar para preencher o vazio. Odeio telefone, odeio qualquer tipo de contato que prive olhares e toques, que impeça de sentir a fala e o perfume, que nos limite somente ao diálogo e nada mais. Qualquer sentimento que venha a surgir enquanto se fala ao telefone é o bastante para angustiar-nos. Mesmo as brigas tornam-se mais confusas, mais sem sentido quando vividas a quilômetros de distância.
Palavras são só palavras quando ditas somente aos ouvidos. Prazer real é deixar que toquem nossa pele, que beijem nossa boca quando ditas com amor, com um olhar e um sorriso que nos confirmem a certeza do êxtase de quando se ama. Palavra viva, que nos acorda e nos alimenta e que sozinhas carecem de algo mais. Melhor é quando não são ditas, mas percebidas ao calor de um toque, no universo de um beijo. Assim deve ser o Nirvana, quando o silêncio não mais é ausência de som, mas sim o leito de dois amantes.
Por isso muitos amam a subjetividade do amor. Por ele carecer de real sentido, torna-nos possível vivê-lo num sorriso, numa música ou até melhor, no mais completo silêncio.
O Amor só ganha sentido quando deixa de ser substantivo para tornar-se verbo.