sábado, maio 26, 2007

Poema descompassado (e sem futuro)



A tua mão em contramão

Encontra o rosto,

Sentindo a face que te mira

Sem senti-la;

Tua pele alva como alvo da retina,

Tua distância em nosso abraço já é rotina...

...E a carne fraca, fracassada carne,

a te esperar...

Sentado e sentindo o Sol

Sobre esta face singular

(e sem sentido).

D. Lordello

13/04/2007

Poema sem novidade

Sem mais expectativas,

Ela diz.

Sem mais sonhos, então.

Nada mais pra si,

Solidão.

Dormir agora é diferente,

Pressinto um presente, um existir

Tão somente calmo e descontente

Quanto um amanhã que outrora vi.

Sem sentido, mas com sentir.

Consenti.

Aceitamos, cabisbaixos, o agora;

Triste “agora”, cada um por si...

D. Lordello

//

Para estar em todos os amores


São tantas as rosas

Que não sei escolher

Quais da flora, maravilhosas rosas,

Gostaria de ser.

D. Lordello

02/02/2007

MINHA POESIA

Minha poesia não começa,

Não tem meio nem enredo;

Não tem mágica nem credo,

Nem tem medo.

Minha poesia nasce por si mesma,

Não tem sexo,

Não tem nexo

Nem fronteiras.

Minha poesia é vira-lata,

É vaga-lume,

É a dor impune

E o amor que mata.

Minha poesia não morre.

[...]

É um casal parado no tempo.

É o tempo que odeia os casais.

É o quarteto de versos banais

Que o poeta semeia no vento.

Minha poesia não tem dono,

Minha poesia não tem sono

Nem cansaços.

É ela quem faz a mim...

E pela estrada, minha graça,

meu fim,

Partilhamos idênticos passos.

D. Lordelo

Loucura

Antes era nada.

Hoje nada sei.

Nada sou...

Nada sai

Da minha cabeça

Nessa hora,

Ora nessa demora

Ora depressa;

De pressa

Humana/mente complexa...

Tudo palavras,

Tudo pra larvas,

Imensidão de-lírios,

Minha mente mentindo,

EU, perturbado,

Perto, calo nos pés descalços,

Calo,

E calado, eu-convexo.

Eu converso com meus fantasmas...

...até sem verso.

D. Lordello

02/02/2007

Só - Riso


Havia algo ali...

Alguma sombra de música,

Alguma alma,

Que pena...

Eu, porém, sorri...

Sorrir é comunhão,

É como um “não” no partir,

Exato e sereno;

Sorrir é veneno

Pra quem quer como o “não”, desistir.

D. Lordello

02/02/2007

É ASSIM...


A vida é cheia de escadas,

Custa subir cada uma delas.

Em cada degrau que se revela

Novas lições nos são passadas.

Uma nova manhã,

Outro amor ou a cura de um vivido,

Não nos miremos à sombra de um afã,

Pois no sonho o alcançar já está contido.

Quedas virão, sei,

Eu mesmo muitas vezes caí,

Outras tantas me levantei.

Na dor muito de bom aprendi,

O essencial é seguir sorrindo,

Cantando o viver, o amar e o porvir.

D. Lordello

13/02/2007

De que é feito o poeta

Sabes tu destas coisas?

Um querer coerente do

Brilho das maçãs,

Um sol poente, áurea

Permanente, intermináveis manhãs;

O cheiro verde das folhas,

Cabelos ao vento,

O cantar nas profundezas

Dos tormentos e saudades...

Tudo vale à poesia...

Sabes ainda?

Todas as partidas,

Todos os olhares tristes,

Todas as ansiedades e equívocos,

Todas as noites eternas, sozinho,

A cama maior,

A alma,

A insônia,

A chama,

Tudo maior,

– os erros –,

Todos os dias

sem o perfume do último abraço,

Tudo, tudo que todos negam,

Todos os anjos sem guarda,

Todos os homens sem deuses,

Todos os domingos vazios,

Tudo,

Tudo enche a alma do poeta.

E basta provar deste sentir,

– ainda que ninguém consiga domar o que

se sente –

Basta ouvir-se em gritos desesperados,

Os pássaros voando por ti,

O sol se pondo por ti,

Tudo cinza, por tua causa,

Basta que todas as coisas durmam,

Que assim, assumindo o mundo em si,

Entenderás o poeta,

Que em face de tais encantos,

Consumido por todos os sentimentos,

Grita,

Explode,

Espalha, pronto enfim, o Amor

Que dentro dele, matéria-prima,

Vindo de tudo o que sentira em rima,

O fecundara.

D. Lordello

27/11/2006

DESPERDÍCIO


Digo o oposto do que tu entendes,

Penso o que tentas esconder nas palavras,

Eu te digo.

Sim, ainda sou meio calado,

Tento gritar nos olhares,

Nos toques e telefonemas,

Déja-vu.

Das palavras de perdão

Peço mais que isso,

Não quero amor submisso,

Nem quero razão...

(desperdício).

D. Lordello

21/02/2007

Confuso “eu”,


Que quando criança só queria crescer,

Andar por aí, sem rima e sem rumo.

Hoje (ah... Saudades da infância!...),

Sou um adulto no adolescer...

E eu,

Quando ao amor divagava, sorrindo,

E ambíguo e distante, chorava,

(cego bem-te-vi)

Pois amar longínqua flor é desatino;

E desata a doer (esperado destino),

O peito marcado à sofrer que gritava:

“Tirem-me daqui!...”.

D. Lordello

07/03/2007

Cinzas


“Se você vier...

...eu te prometo o sol.”

É quarta de cinzas.

É chuva.

Silêncio.

É dormir na rede,

É frio,

Amor.

Foi-se o carnaval,

Foi-se a carne,

Não a dor.

D. Lordello

21/02/2007

Carências


Preciso de um, só um “bom dia” sorridente que você me dá, mudando a voz, pra que meu dia fique realmente bom.

Preciso mais alguns dias, meses ou anos pra te entender por inteiro.

Preciso talvez mais que isso pra me entender.

Preciso saber como falar das coisas contigo.

Preciso passar cinco dias ao teu lado

e dois pensando por que não são logo sete.

Preciso esperar outros sete dias lhe dando seu tempo de direito.

Preciso ligar três vezes antes de desistir de ligar,

e de preferência não fazer isso nenhuma vez se você estiver dormindo.

Preciso só de um gesto teu pra mudar todos os meus gestos.

Preciso de meus dois olhos fixos olhando para os teus, esperando um piscar de volta pra mim.

Preciso de mais algumas horas no dia pra corrigir erros e dormir tranqüilo.

Preciso de mais gestos de carinho sem inibição e sem culpa.

Preciso de menos inibição e culpa...

Preciso perceber teus limites e não compará-los com os meus.

Preciso de um abraço sem precisar pedi-lo.

Preciso ser mais tolerante comigo mesmo.

Às vezes, acho que preciso ser infalível contigo.

Preciso ser mais claro ao teu lado

pra tentar ser visto com mais clareza.

Preciso ouvir outra vez três palavras suas, ou duas.

Preciso um dia não ter que dizê-las pra que você as perceba.

Preciso de outros eucaliptos, outubros...

Preciso te ver com teus olhos e que você me veja com os meus.

Preciso não merecer poesias rasgadas e lágrimas tuas.

Preciso não ser jogado tantas vezes de volta ao passado e às culpas das quais ele me faz viver.

Preciso de mais lágrimas de felicidade a dois e menos lágrimas de dor sozinho.

Preciso de outros passeios pelas ruas, rindo contigo.

Definitivamente não preciso deste aperto no peito que sinto agora.

Preciso do meu tempo pra mudar algumas coisas, mas que ele não demore o suficiente pra ser tarde demais.

Preciso estudar mais vezes contigo em dias frios.

Precisamos perceber o que temos de bom e que podemos dividir um com o outro.

Precisamos necessitar cada vez menos de palavras pra nos entendermos cada vez mais.

E precisamos muito, precisamos tanto... e muito desse tanto precisamos juntos.