sábado, maio 26, 2007

De que é feito o poeta

Sabes tu destas coisas?

Um querer coerente do

Brilho das maçãs,

Um sol poente, áurea

Permanente, intermináveis manhãs;

O cheiro verde das folhas,

Cabelos ao vento,

O cantar nas profundezas

Dos tormentos e saudades...

Tudo vale à poesia...

Sabes ainda?

Todas as partidas,

Todos os olhares tristes,

Todas as ansiedades e equívocos,

Todas as noites eternas, sozinho,

A cama maior,

A alma,

A insônia,

A chama,

Tudo maior,

– os erros –,

Todos os dias

sem o perfume do último abraço,

Tudo, tudo que todos negam,

Todos os anjos sem guarda,

Todos os homens sem deuses,

Todos os domingos vazios,

Tudo,

Tudo enche a alma do poeta.

E basta provar deste sentir,

– ainda que ninguém consiga domar o que

se sente –

Basta ouvir-se em gritos desesperados,

Os pássaros voando por ti,

O sol se pondo por ti,

Tudo cinza, por tua causa,

Basta que todas as coisas durmam,

Que assim, assumindo o mundo em si,

Entenderás o poeta,

Que em face de tais encantos,

Consumido por todos os sentimentos,

Grita,

Explode,

Espalha, pronto enfim, o Amor

Que dentro dele, matéria-prima,

Vindo de tudo o que sentira em rima,

O fecundara.

D. Lordello

27/11/2006