De que é feito o poeta
Sabes tu destas coisas?
Um querer coerente do
Brilho das maçãs,
Um sol poente, áurea
Permanente, intermináveis manhãs;
O cheiro verde das folhas,
Cabelos ao vento,
O cantar nas profundezas
Dos tormentos e saudades...
Tudo vale à poesia...
Sabes ainda?
Todas as partidas,
Todos os olhares tristes,
Todas as ansiedades e equívocos,
Todas as noites eternas, sozinho,
A cama maior,
A alma,
A insônia,
A chama,
Tudo maior,
– os erros –,
Todos os dias
sem o perfume do último abraço,
Tudo, tudo que todos negam,
Todos os anjos sem guarda,
Todos os homens sem deuses,
Todos os domingos vazios,
Tudo,
Tudo enche a alma do poeta.
E basta provar deste sentir,
– ainda que ninguém consiga domar o que
se sente –
Basta ouvir-se em gritos desesperados,
Os pássaros voando por ti,
O sol se pondo por ti,
Tudo cinza, por tua causa,
Basta que todas as coisas durmam,
Que assim, assumindo o mundo em si,
Entenderás o poeta,
Que em face de tais encantos,
Consumido por todos os sentimentos,
Grita,
Explode,
Espalha, pronto enfim, o Amor
Que dentro dele, matéria-prima,
Vindo de tudo o que sentira em rima,
O fecundara.
D. Lordello
27/11/2006
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