sábado, março 25, 2006

Acróstico de meu íntimo...


Pelos cantos de minh’alma empoeirada,
Encontro o menino que outrora pintava traços sem sentido –
Sabia ele que era a vida aquelas formas vivas e livres no papel.
A sua face triste e desbotada revelava o fim do seu sonho
De criança – um sonho vívido como as cores que manchavam toda
Esta sala, quando o “puro” e o “real” ainda faziam sentido.
Logo vi que os papéis e as tintas haviam acabado, e que
O menino era eu.

Debrucei-me sobre o garoto e beijei seus cabelos.
Ele não retribuiu.

Cada palavra, cada olhar; tudo parecia
Ridículo para ele...
Indiferente à minha presença,
Alcançou um pedaço de sonho, e
Na maturidade inda cedo adquirida, pôs-se a chorar como adulto. Ca-
Çou em meus olhos um lugar de segurança,
A linha de remorso por minha culpa admitida...

Sorriu desapontado ao me ver em preto e branco,
Olhando firmemente para um homem sem futuro;
Negava envergonhado a criança aprisionada, no
Homem que hoje sou, mentalmente imaturo;
Ouvindo em silêncio os lamentos de um poeta.

Debilmente confortado pelo último suspiro,
Ergueu-se de seu corpo toda breve e doce infância,

Unindo em pensamento nosso único destino,
Meu “hoje” se resume a perder as esperanças.

Partiu aliviado para o mundo dos pequenos,
Onde fica a nossa “íntima criança” desprezada.
Esta frágil, surda e impotente criatura,
Tantas vezes sequer compreendida,
A verdade na inocência disfarçada.