domingo, março 19, 2006

Registro de um curto espaço de tempo...

Farta-me de tuas lembranças, amor, banha-me em tuas lágrimas puras, puramente indesejadas.
Caminhar junto ao nada, num caminho vazio, sem norte, sem sorte. Eis o destino de quem se deixa sucumbir ao destino, circunstâncias e sofrimento. São conseqüências de outras conseqüências, palavras mudas a provar o gosto silencioso de um olhar, em declarações que não mais podem ser ditas; rios de tormentos e águas traiçoeiras.
Desertos e caravanas preenchem a essência, seca, absoluta e amarga. Algo queima meu peito, dissolve minhas certezas, lança-me à condição de servo, sedento de teu suor e saliva.
Talvez o esquecimento, cura melancólica, adquira um significado de aceitação incerta, pois tudo no mundo é desprovido de certezas. Nega a identidade, finge garra e fortaleza, mas deixa-se vencer, se trair por cartas e retratos. Eis a essência do homem: quando ama, a carne subjuga-se à alma.
Deixo as águas lavarem, levarem-me de novo ao encontro; outros caminhos, outras palavras, diferentes escadas rumo aos céus do ser, e dividem o mesmo sentimento; iludem-se ao viver o amor nas lembranças...
Beijam-te outras bocas, envolve em outros braços teu corpo...
Jamais terão o mundo e o amor que te dei.


D.Lordelo, 17/03/06